Agonizando
"O que, antigamente, foi fonte de júbilo e de lamento deve agora tornar-se fonte de reconhecimento".

[Jacob Burckhardt]

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Terça-feira, Outubro 26, 2004

<Evandro> 

Maior que as nuvens que saíram de trás daquele prédio no dia em que não deveriam ter saído porque você não estava usando guarda-chuva. Esse é o tamanho da lição de vida que é escutar "Glenn Gould tocar Bach no piano.

Se você não consegue escutar, se acha que é chato, pense na felicidade que você teria sentido se tivesse descoberto que aquela nuvem que saiu de trás do prédio e molhou você todo foi, na verdade, enviada por Deus para limpar tudo de ruim que existia dentro de você.

Ficou meio brega...

Deixe-me reformular então...

Anastásio estava andando louco e perdido pela vida, os pés pelas mãos, o rabo entre as pernas, a pulga atrás da orelha. Do fundo de um corredor escuro em que entrou certa vez, vinha uma música indescritível. As notas burrifavam-se contra seu corpo todo, penetravam pelos poros exigindo atenção absoluta. Por 34 dias Anastásio ficou ali, parado, imóvel, no início do corredor, sem coragem de prosseguir. Prosseguir era uma ofensa. Prestar atenção aos pés! Não. Atenção absolutamente dedicada aquele fluxo inefável que vinha do nada.

Então a música parou.

Imediatamente ele pensou: "BWV0000. Acabou."

Anastásio então saiu do túnel. Não quis saber o que havia lá no final. Tudo o que ele queria saber não significava nada diante do que tinha ouvido naqueles 34 dias. Curiosidade era palavra estúpida. Lágrimas saíam de seus olhos como caldo verde jorrando da panela da vovó Jasminda. Suas pernas estavam bambas como vara verde e seus olhos, arregalados fitando o nada, eram os olhos de quem estava pensando em tudo o que não sabia e nunca iria saber.

A música que nos faz pensar em tudo o que não sabemos e nunca vamos saber.

Ou:

Se você não consegue escutar Glenn Gould tocar piano, se acha que é chato, pense na felicidade que você teria sentido se tivesse nascido um pouquinho mais inteligente.
</Evandro> <!--9:26 PM-->

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