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<Evandro> Diz-se que se está filosofando seriamente quando a verdade do que pensamos começa a ficar mais clara em nossa cabeça, em um número cada vez maior de aspectos, coincidindo com a experiência de nossas próprias vidas. Pois a verdadeira filosofia se vive em tempo integral, ao invés de ser aquela brincadeira teórica da faculdade, quando escrevemos coisas que não resistiriam ao mínimo confronto com nossas experiências do dia-a-dia.
Estou buscando isso. E uma das coisas mais belas nessa busca é encontrar pela estrada pessoas que sentiram o mesmo porque viveram o mesmo. A coincidência existencial é muito mais bela do que a coincidência teórica, simplesmente porque a primeira leva à segunda de um modo muito mais natural que na hipótese inversa. Dois homens viverem as mesmas experiências em épocas diferentes é algo muito mais misterioso e bonito do que uma simples concordância teórica. Quando eu leio um livro, estou procurando no autor sentimentos que eu vivo. E, quando os encontro, algo de mágico acontece. É como se a verdade se mostrasse.
Certa vez eu disse uma coisa aqui neste blog.
Qual não foi minha felicidade quando descobri que, em vez de entender pouco de economia, na verdade eu entendo é muito! Ao menos muito mais que aqueles a quem me referia no tal post. E a seguinte passagem de Chesterton em "Ortodoxia" me deixou muito impressionado:
"É sempre muito custoso para alguém defender qualquer coisa de que esteja absolutamente convencido, ao passo que é comparativamente fácil fazer essa defesa quando está apenas parcialmente convencido. O homem está parcialmente convencido, porque encontrou esta ou aquela prova do fato e ser-lhe-á fácil expor o que pensa. Mas um homem não está realmente convencido de uma teoria filosófica quando há qualquer coisa que lha prova: o homem só está realmente convencido quando todas as coisas lha provam. E, quantas mais razões convergentes ele encontra para fundamentar essa convicção, tanto mais atrapalhado ficará se, repentinamente, lhe pedirem que sintetize essas razões".
É claro que a minha experiência coincide com a dele apenas num sentido bastante vulgar. Em todo caso, ao menos serve para mostrar uma verdade. Pois, segundo ele mesmo disse, "quanto mais complicada parece a coincidência, menos poderá ser uma coincidência".
</Evandro> <!--5:21 PM-->
<Evandro> Trecho da Entrevista de Bernard Lewis publicada no MSM:
Por que a questão palestina tem levado tantas décadas para se resolver?
Essa é uma parte essencial do aparato político dos países árabes. Os governantes precisam desses agravos e ressentimentos para desviar a ira do povo. Caso contrário, eles mesmos serão objeto da ira. Nos países árabes, a queixa a respeito de Israel é a única que pode ser expressa livremente. Mas o problema palestino é apenas um entre os vários que vemos ao longo das fronteiras do mundo islâmico, como Kosovo, Bósnia, Tchechênia, Caxemira, Sudão e Timor. Todos esses pontos são manifestações de um mesmo grande problema entre o islã e o não-islã.
Por que a questão palestina recebe mais atenção?
Por duas razões. A primeira é que Israel é uma democracia, então a mídia pode entrar, sair e fazer seu trabalho livremente. Israel é o país com a terceira maior presença de jornalistas no mundo, atrás apenas de EUA e Inglaterra. A segunda razão é que os judeus estão envolvidos. E judeus são notícia. A vantagem da questão palestina é que os agravos podem contar com uma resposta imediata na Europa. Quando lutam contra os cristãos, aí é mais delicado. Não podem esperar que os cristãos se juntem a eles. Houve recentemente um ataque terrível no oeste do Sudão, mas ninguém lhe deu a mínima atenção.
</Evandro> <!--7:53 PM-->
<Evandro> A figura mais radical do noticiário de hoje foi um bispo católico! O sujeitinho (presidente da CPT) defendeu a invasão de terras produtivas, coisa que nem o nosso governo proto-comunista admite. O argumento é mais ou menos o seguinte: se o governo pode desapropriar quaisquer terras que quiser para construir estradas e obras semelhantes, tem que poder desapropriar terras produtivas também, afinal isso é discriminação! Sim! o sujeito disse isso com a maior cara lavada, e usou a palavra "discriminação". É discriminação desapropriar só terras improdutivas!! Rá. E eu acho que deixar um sujeito desses dizer coisas na TV é discriminação com as pessoas que têm cérebro. Afinal, elas também têm o direito de se expressar.
Outra reportagem mostrava uma exposição de desenhos de crianças que morreram no campo de concentração. E um sujeito disse que a beleza dos desenhos mostrava a vitória da esperança e da bondade contra a "intolerância". Os nazistas eram intolerantes. Rá. Juro que esse é o adjetivo mais bonzinho que eu já vi alguém usar para qualificar os nazistas. Ai, que bom seria se fosse tão simples assim...
</Evandro> <!--9:54 PM-->
<Evandro> Uma das mais arraigadas leis da pseudo-sabedoria é a de que filmes norte-americanos são ruins "porque a estética hollywoodiana é clichê". Os filmes europeus, por sua vez, jamais são clichê, mesmo que os ângulos e enquadramentos sejam eternamente os mesmos, mesmo que os personagens sejam pessoas eternamente entediadas e "blasé", mesmo que a fotografia seja eternamente a mesma, variando de realista a semi-bucólica, mesmo que as cores sejam sempre as mesmas, levemente desgastadas e mortas.
Já tive de ouvir isso várias vezes: os filmes europeus são para pensar. Os filmes americanos são para levar a namorada no fim de semana. Quem diz isso é porque não tem namorada. Tudo fica mais simples quando não se tem namorada. Principalmente tirar onda de inteligentão.
O desprezo pelas técnicas cinematográficas de Hollywood é quase o maior dos consensos pseudo-sábios que conheço. E sabe o que eu penso dele? Acho ridículo. Acho que ele é um misto de preconceito minimalista e inveja tecnológica. Não sou nenhum nerd babão que "se amarra" nas explosões e "bzuéins, poins, puffz" daquelas vinhetas do Dolby Surround. Mas, - bolas! - os efeitos sonoros e visuais são bárbaros quando bem usados (vide "O Senhor dos Anéis"). Sinto-me feliz e livre como um pássaro. Sabe por quê? Porque sou capaz de gostar tanto de "O Senhor dos Anéis" quanto de "A insustentável leveza do ser".
</Evandro> <!--6:57 PM-->
<Evandro> E eu quero sentir minha existência dentro do que eu faço e penso. Eu quero sentir que, pensando e refletindo, eu estarei melhorando minha vida, porque passarei a entender coisas que eu não entendia antes. A ignorância do sentido de muitas coisas torna minha vida mais difícil. No momento em que eu passo a entender por que algo é como é, no momento em que consigo explicar o mecanismo de funcionamento de algum fenômeno de minha vida, neste momento eu sinto um alívio, mesmo que eu não vá conseguir escapar das conseqüências desse mecanismo. Só a consciência da explicação de como ele funciona já é, de certa forma, liberdade. E o primeiro mecanismo que eu preciso explicar sou eu mesmo. </Evandro> <!--10:11 PM-->
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