Agonizando
"O que, antigamente, foi fonte de júbilo e de lamento deve agora tornar-se fonte de reconhecimento".

[Jacob Burckhardt]

Agonías sofre em Brasília-DF
agonias_feitosa@hehe.com

Evandro sofre em São Paulo-SP
vates@uol.com.br






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Sábado, Novembro 29, 2003

<Evandro> 

Esse texto era a minha apresentação no Digestivo, a long long time ago...


Eu

Comecei a ler por acaso. Está certo que nunca fui daqueles jovens impacientes, que alugam “A moreninha” na locadora só pra não ter que ler o livro que o professor mandou. Só não conseguia começar a ler. Depois que começava, quase não parava até terminar o livro. E depois, para o próximo livro, tudo de novo.

Então sou assim. Difícil começar a fazer as coisas, mas depois que começo, não paro mais. É mais ou menos como aquela lei do atrito, na física. Você vai empurrar uma geladeira e ela não sai do lugar, pesadíssima. Mas depois que ela começa a se mover, fica muito mais fácil mantê-la assim. Eu sou a geladeira. Quem empurra? Bem, ultimamente tem sido minha namorada. Mas já foi minha mãe, berrando em meu ouvido, com a “Veja” na mão: “você precisa ler, meu filho, ficar informado”. E o mundo dá tantas voltas que hoje eu digo: “mãe, larga essa ‘Veja’ e vai ler algo que preste”!

Mas essa coisa de ler só começou bem tarde, depois de eu fazer vestibular pra Computação e de cursar dois anos de arquitetura. Depois, larguei tudo e fiquei à toa, dançando “Street Beat” com um grupo de dança, acredite se quiser! Então veio um maluco (sempre seu melhor amigo é um maluco), que leu o Inferno de Dante aos 13 anos, e me deu “O perfume”, de Patrick Süskind. Pirei com aquele sujeito que largou tudo e foi pra caverna, viveu isolado por não sei quanto tempo e desenvolveu uma sensibilidade inacreditável para discernir aromas. Fui embora de Brasília, minha terra natal. Não foi por causa desse episódio que fui, mas sabe que escrevendo agora essas linhas começo a perceber que talvez tenha sido?

De qualquer maneira, fui pra BH em direção a meu amor, minha namorada-esposa-embora-não-de-papel-passado. Cursei publicidade e quis ser designer gráfico porque gostava de fazer o layout das pranchas dos projetos de arquitetura. Adoro design gráfico, mas aí entra minha segunda característica básica: não gosto de ficar por conta do trabalho. Tudo bem, ninguém gosta. Mas eu simplesmente não suporto o desperdício de sair de casa às 9 da manhã e voltar às 9 da noite, sendo que eu poderia produzir o mesmo em 6 horas, se ficasse em casa. Mas são essas as regras do jogo publicitário. Então eu virei juiz do jogo. Ou seja, hoje escrevo sobre publicitários chatos, ao invés de ser um deles. Pena que o juiz não ganha dinheiro como os jogadores. Pensei também em ser free-lancer, mas não suportaria os clientes. Design gráfico é como tentar vender um quadro de Rembrandt a um contador de repartição pública. Você acaba conseguindo vender, mas por um décimo do preço (estou sendo otimista, no caso de Rembrandt) e pelos motivos errados - e depois de muito stress.

Nesse meio tempo dei de cara com os artigos de um sujeito chamado Olavo de Carvalho. Alguns leitores vão dizer: “estava demorando ele falar isso”. A esses não tenho nada a declarar, mas vou continuar declarando!

Então descobri por que até então eu preferia ler literatura. Gostava das aulas de semiótica e sociologia, mas às vezes sentia algo de enfadonho naqueles textos, algo de alienante, como se não tivessem muito a ver com o mundo real. Atribuía isso à minha dificuldade de começar a fazer as coisas, como disse no início. Mas depois percebi que eu não estava errado, realmente existia uma realidade paralela naqueles textos. Então comecei minhas excursões pela biblioteca e descobri que os melhores livros tinham suas fichas em branco. Ninguém os retirava, nenhum professor os indicava.

Então o Olavo serviu para isso. Depois de lê-lo eu não me senti mais envergonhado de pensar como Hamlet: “há algo de podre no reino da Dinamarca”. E pensar como Hamlet é estar sozinho, ou quase. E o que acontece nesse país é que as pessoas pensam o oposto. Acham que pensar como Hamlet é possível sem as consequências que advém de tal posição. O que temos nas universidades hoje são milhares e milhares de pessoas que, juntas, afirmam que há algo de podre no reino da Dinamarca e acham que sabem o que é (e dão tantos nomes a isso que esse simples fato já demonstra que estão erradas). E eu digo com certeza: se tivessem descoberto a verdadeira podridão, não estariam acompanhadas de tanta gente em sua descoberta, pois as descobertas são, por definição, solitárias.

Resumindo. Existem livros ruins e livros bons. E os ruins não são só os de auto-ajuda, mas também aqueles que eu outrora achava que eram bons - como “O capital”, por exemplo. Em segundo lugar, isso não é uma questão de ideologia, mas de verdade e mentira.

Alguém deve estar perguntando: “mas você não está falando de você”. Bem, eu hoje sou isso. Sou essa busca por um conhecimento que preste, geralmente em outras línguas por motivos óbvios. Como tenho 26 anos, a busca está só começando!

E sou também meu amor pela garota que eu tenho, pelas repolhudas (minhas duas cadelinhas fofas e peludas!) e pelas comidas deliciosas, como a japonesa e a baiana. Também sou “Matrix”, “Senhor dos Anéis” e “Guerra nas Estrelas”, mas nunca pelos motivos mais óbvios. Se me perguntarem se “Guerra nas Estrelas” tem conteúdo, vou dizer “sim, se você se der ao trabalho de procurar”. E se me disserem que por isso eu não posso gostar de David Lynch e Luís Buñuel, também não tenho nada a declarar.

E esse texto já está tão longo que nem parece apresentação. É por causa dessa minha terceira característica básica: gostar de me abrir e falar o que penso! Então às vezes parece mal humor, mas acredite, estou sempre rindo de tudo, como todo bom brasileiro!
</Evandro> <!--11:16 PM-->

<Evandro> 

Ah, e tem mais este artigo, muitíssimo comentado e de cuja existência fiquei sabendo por indicação em um artigo do professor Olavo, como sempre...
</Evandro> <!--8:44 PM-->

<Evandro> 

Achei o texto abaixo no site do Clube Israelita Brasileiro. Acho que ele não está no site do professor Olavo, então resolvi colocá-lo aqui. O link, caso alguém queira ver as fotos da palestra, é este.




O Novo Anti-Semitismo e Suas Raízes Históricas

Os modelos de regime totalitários surgidos no século XX usavam contra as democracias liberais uma retórica inspirada na nostalgia da participação comunitária medieval, que o advento da moderna tecnologia substituíra pela organização impessoal da sociedade industrial e pós-industrial. Esse discurso tinha um forte apelo emocional e cultural sobre as massas de classe média semi-letrada estudantes, pequenos funcionários, jornalistas que sempre constituíram o grosso da militância dessas duas ideologias. No entanto, os dois modelos tinham algumas limitações intrínsecas que tornavam essa crítica ineficaz. O comunismo não oferecia outra modalidade de participação comunitária além da inscrição num partido mundial, isto é, numa entidade abstrata sem raízes locais e tradicionais. O nazismo, ao contrário, enfatizava a ligação com as raízes, mas, como se tratava de raízes nacionais e raciais, a expansão do movimento ficava limitada às fronteiras nacionais, dificuldades insuperáveis opondo-se à formação de algo como uma "internacional nazista". O radicalismo islâmico, que na década de 30 foi criado por intelectuais islâmicos de formação européia, superou essas contradições e por isso conseguiu arrebanhar o apoio dos remanescentes comunistas e nazistas, bem como das novas correntes esquerdistas impregnadas de romantismo e anarquismo. Em sua formação, as filosofias de Heidegger, de Marx, de Foucault, de Sartre e de Paul de Man foram tão decisivas quanto a própria doutrina Islam. O radicalismo islâmico, que está para o islamismo como a "teologia da libertação" está para o cristianismo, esvaziou o Islam de seu conteúdo espiritual, fazendo dele o programa de uma revolução mundial destinada a criar uma sociedade radicalmente igualitária. O apelo do utopismo islam baseia-se no senso de participação numa comunidade que é ao mesmo tempo "nacional" (o Islam se autodefine como uma "nação"), "tradicional" e "mundial". Assim ele conseguiu realizar a proeza de absorver e transcender todos os movimentos revolucionários anteriores, tornando-se a matriz unificada da nova revolução mundial, que acrescenta um sentido "religioso" ao utopismo revolucionário. O neo-anti-semitismo mundial explica-se assim como fusão e poderoso revigoramento das tendências anti-semitas imanentes às três raízes dos movimentos que compõem a nova ideologia da revolução mundial: 1-Anti-semitismo sociológico (comunista), em que o judeu aparece como símbolo do capitalismo e do cosmopolitismo que se opõem às identidades tradicionais de nações e comunidades; 2-Anti-semitismo racial (nazista); 3-Anti-semitismo religioso e político (islâmico), nascido de antigos e novos conflitos de jurisdição entre as comunidades muçulmana e judaica no Oriente Médio. Mas não se deve entender esse fenômeno como uma continuação natural do antigo expansionismo do Islam tradicional, e sim como a realização da profecia de Maomé: "Tempo virá em que nada mais restará do Islã exceto o nome, e nada do Corão exceto a aparência. As mesquitas dos muçulmanos estarão vazias de conhecimento e piedade, e os doutores da religião serão as piores pessoas sob o céu. Conflitos e disputas nascerão deles e recairão sobre eles mesmos."
(Olavo de Carvalho)
</Evandro> <!--8:24 PM-->

Quinta-feira, Novembro 27, 2003

<Evandro> 

Paulo Rónai e a arte de traduzir



Comentando a questão da fidelidade em tradução, Paulo Rónai caracteriza como tradutor mais fiel aquele que transportasse o conteúdo da mensagem original expressa em uma língua estrangeira para a sua língua-alvo; isso sem transportar sua forma, mas antes conformando-a aos "usos, hábitos e regras de sua própria língua". Assim, segundo o autor, "a fidelidade seria uma obrigação dupla: para com o conteúdo da mensagem e para com a praxe expressiva da língua-alvo".

As observações de Rónai têm, obviamente, a intenção de lembrar que aquilo que mais dificulta a tradução é o fato de que cada língua é um repositório de meios expressivos de uma cultura determinada. E, assim como diferem as culturas, e exatamente por causa disso, diferem também as línguas entre si quanto a esses meios. Em outras palavras, cada língua tem a sua "cara", e esta pode variar radicalmente, tornando a tradução, muitas vezes, um processo extremamente complexo e fazendo de seu produto final uma obra que pouco tem da original. Um grande exemplo disso são as alusões que Rónai faz à estrutura gramatical do húngaro.

A conclusão é a de que traduzir está longe de ser um ato mecânico. É, sim, um processo de reflexão, em que o tradutor faz uso de seus conhecimentos para transportar a mensagem de uma cultura a outra, adaptando-a, para que o resultado final seja um conjunto de significantes familiar ao leitor ? e, portanto, diferente do original - mas que ainda transmita a mesma mensagem daquele.

Mas aqui cabe uma outra reflexão. Se o tradutor "transporta" a mensagem de uma cultura a outra, é de se esperar que nela venham elementos estranhos, exóticos, desconhecidos do leitor da mensagem transportada. Rónai então estabalece duas posturas possíveis quando do ato de traduzir: a tradução "naturalizadora" e a "identificadora". Na primeira delas, o tradutor se presta a "conduzir uma obra estrangeira para outro ambiente linguístico", o que significa "querer adaptá-la ao máximo aos costumes do novo meio, retirar-lhe as características exóticas, fazer esquecer que reflete uma realidade longínqua, essencialmente diversa". A outra postura, oposta, é a de "conduzir o leitor para o país da obra que lê", o que significa "manter cuidadosamente o que essa tem de estranho, de genuíno, e acentuar a cada instante a sua origem alienígena".

Ora, as duas posturas são na verdade uma só. E se o tradutor adota uma delas em detrimento da outra, isso denota antes uma falha do que uma inevitabilidade. O erro está em pensar que duas realidades longínquas são "essencialmente diversas". A rigor, não existem realidades humanas essencialmente diversas. A essência da condição humana é uma só. Por maiores que pareçam as variações, as realidades humanas com que trabalha o tradutor são essencialmente iguais. E o trabalho dele, descontadas as gigantescas dificuldades, é justamente o de "escavar" as duas realidades com que trabalha, até encontrar o que há de comum entre elas, sua essência. O simples fato de que ele, como ser humano que é, consegue compreender razoavelmente bem as realidades das diferentes línguas com que trabalha já é prova de que elas jamais podem ser classificadas como "essencialmente diversas".

A tradução ideal, portanto, é aquela que traz um certo grau de familiaridade, bem como um certo grau de estranhamento, ou seja, de novidade que requer aprendizado por parte do leitor. Cabe ao tradutor julgar quando o estranhamento é enriquecedor, e quando é mero preciosismo linguístico sem necessidade. É certo que o grau de "naturalização" de uma tradução, na prática, é sempre maior que o de "identificação", mas não se pode esperar que uma obra traduzida possa ser nem totalmente estranha ao leitor nem totalmente familiar, do ponto de vista linguístico. As duas polarizações devem ser vistas como ilustrativas de situações-limite.



Com o intuito de caracterizar "o tradutor como ele devia ser", Rónai estabalece também quatro requisitos que ele deve possuir: a) "conhecimento profundo da sua língua-materna"; b) conhecimento da língua de partida; c) bom senso; d) "uma cultura geral que lhe possibilite identificar os lugares comuns da civilização". Fazendo uso desses três requisitos, o tradutor será capaz de reconhecer os elementos culturais do país de origem do texto, transportando-os em sua tradução. Além disso, será capaz de "desconfiar" de palavras e expressões sem equivalência literal, bem como de saber se a tradução do texto "soa bem" quando lida. No caso do tradutor técnico, alguns dos requisitos acima são menos importantes, dado o alto grau de padronização da linguagem científica. Entretanto, acrescentam-se outros, a saber, o conhecimento teórico daquilo que se chama de ciência e um maior conhecimento dos procedimentos filológicos, principalmente os de composição de glossários e pesquisa de termos ausentes dos dicionários.
</Evandro> <!--7:07 PM-->

Domingo, Novembro 23, 2003

<Evandro> 

Passeando pelo blog de um amigo, achei essa pérola em um "comment": "toda Verdade não é em sua totalidade Verdadeira".

Desconte-se, primeiramente, o português sofrível, que exigiria duas vírgulas (nem vou dizer onde), a substituição de "toda" por "nenhuma" e a eliminação do "não" e das maiúsculas.

O que me interessa, no entanto, é o absurdo raciocínio. Se "toda Verdade não é em sua totalidade Verdadeira" então a própria frase enunciada - que pretende ser verdadeira ao falar sobre a verdade - tampouco é verdadeira em sua totalidade! O que nos leva a algo como (corrigido o português): "nenhuma verdade é, em sua totalidade, verdadeira; mas, como resultado direto disso, isso que eu estou dizendo também não é, em sua totalidade, verdadeiro. Portanto, há verdades que são, em sua totalidade, verdadeiras e outras que não". Como vê, o absurdo filosófico chamado relativismo acaba de criar um par de definições redundantes: verdade verdadeira e verdade falsa (aquela que não é totalmente verdadeira)! Imagino que algumas verdades verdadeiras também não sejam, em sua totalidade, verdadeiras, o que nos mostra a necessidade de criar mais um par de definições: verdades verdadeiras verdadeiras e verdades verdadeiras falsas. E assim, ad infinitum!
</Evandro> <!--12:25 AM-->

Sábado, Novembro 22, 2003

<Evandro> 

Um amigo comentou comigo, no dia do debate do Olavo com o Alaôr, que este falou mais de direito do que aquele e que, como o tema do debate era "Marxismo, Direito e Sociedade", isso configurava um ponto a favor do professor uspiano. Na hora o assunto acabou mudando repentinamente, devido à presença de outras pessoas, e não tive oportunidade de pensar sobre ele.

O professor Alaôr quis mostrar que o esquema marxiano da infra-estrutura/ superestrutura mostra que o Direito só existe DEPOIS de terem sido formados os meios materiais que o requeriam como solução para determinados problemas. Em outras palavras, o direito está na superestrutura, ou seja, é um PRODUTO da infra-estrutura, a saber, das relações materiais. Em bom português, o direito precisou ser criado apenas porque o desenvolvimento das relações de produção assim o exigiu. O contrato (aquela folhinha de papel que duas ou mais pessoas assinam!), segundo o professor Alaôr, foi uma criação resultante do desenvolvimento das forças produtivas, que então exigia que fosse criada uma forma de se expandir a produção de bens. Para que isso ocorresse, era necessário que mais pessoas pudessem comprar coisas, já que escravos e servos não poderiam fazê-lo. Isso tudo se deu no final do feudalismo. Para que a produção pudesse, então, expandir-se e para que o capitalismo pudesse se desenvolver, era preciso que as pessoas ganhassem salários, ou seja, que tivessem o direito de venderem sua mão-de-obra em troca de dinheiro.

Eu sempre fico pasmado diante da malícia, da profunda amargura que marca a teoria marxista. Note que, segundo o raciocínio acima, nenhuma das idéias pregadas naquela época - de liberdade, igualdade, etc - era "verdadeira". Era tudo um pretexto para que a produção pudesse se expandir!

Mas voltemos ao que interessa. O professor Alaôr queria mostrar que o marxismo pode servir para nos fazer ver que o direito é "relativo". Ele não é (apenas) norma, como queria Kelsen, mas antes um produto de relações materiais e culturais. Ele não chegou a dizer as implicações disso, mas creio que elas sejam óbvias e que possam ser vistas pelo país afora: atribuição de direitos a movimentos totalmente ilegais como o MST, proteção dos direitos humanos dos mais variados tipos de assassinos, etc etc, tudo porque as punições (que são fenômenos do direito) aplicáveis a essas pessoas devem ser relativizadas diante de diversos fatores sociais, todos derivados da luta de classes.

E o professor Olavo? Por que ele não falou muito sobre direito? Bem, é simples. Tudo isso que o professor uspiano disse, bem como todas essas minhas observações baseadas no que ele disse, dependem de um elemento fundamental: a explicação marxista de que todos os fenômenos culturais (ou tudo aquilo que o homem pensa, conforme se afirma claramente no livro "Ideologia Alemã") são produtos das relações de produção deve ser validada empiricamente. E foi justamente isso que o professor Olavo derrubou: a validade da "dialética materialista". E o fez com provas empíricas (muitas delas), entre as quais estava a própria charlatanice de Marx, que manipulou estatísticas para forçar goela abaixo dos leitores sua tese da acumulação crescente do capital.

Enfim, derrubando-se a "dialética materialista", torna-se inútil falar de qualquer contribuição que o marxismo possa dar ao direito, já que fica demonstrado que este não é o mero resultado de determinadas relações de produção, mas uma outra coisa muito mais sutil e complexa.
</Evandro> <!--8:58 PM-->

<Evandro> 

Da necessidade de se aprender inglês



"The Matrix Revolutions não é um filme terrivelmente ruim, mas é uma tremenda decepção". Assim começa a resenha de Andrew O'Hehir, na Salon.

Primeiramente, vou contar como sempre termino visitando a Salon. Ou melhor, vou contar o que aconteceu desta vez, e isso fica valendo como analogia para todas as outras vezes em que eu quis ler uma crítica sobre algum filme.

Foi assim. Eu gostei muito do primeiro "Matrix", gostei bastante do segundo (embora menos um pouco que o primeiro) e gostei também bastante do terceiro (ainda um pouco menos que o segundo). Em busca de uma terceira opinião sobre este último, resolvi começar pela (argh!) mídia brasileira. A resenha que saiu no Estadão (14 de novembro de 2003, pg. D10), embora não fosse "terrivelmente ruim", foi uma "tremenda decepção". Nem sei como ainda consigo ficar assim (pois nem me lembro da última vez em que li uma crítica interessante sobre algum filme naquele jornal), mas fiquei.

A manchete "'Matrix Revolutions' e o anel mítico de Frodo" anuncia uma correspondência inusitada e surpreendente entre Matrix e "O Senhor dos Anéis". O leitor, no caso eu, foi em busca da dita cuja. Para tanto, tive de andar por sobre as águas da superficialidade jornalístico-sociológico-cultural, tal qual um patinho feio ingênuo a buscar peixes nas profundezas. Felizmente, a superficialidade traz em si essa intrigante "vantagem", a saber, favorece a leitura dinâmica. Foi assim que passei pelo primeiro e pelo segundo parágrafo. "O primeiro encontro de Trinity com a nova Oráculo em Matrix Revolutions enseja um diálogo cifrado sobre identidade e mudança." Ôpa! Vida inteligente no jornalismo cultural brasieliro! pensei eu. Mas logo percebi meu engano. A observação buscava ilustrar o seguinte. Os diretores do filme estão sempre atentos às mudanças e as incorporaram ao seu filme à medida que foi sendo produzido. Observação bobinha e que, no entanto, era o cerne da resenha, já que, logo adiante, o exegeta revela seus "achados": (a) a atriz que fazia o papel do Oráculo morreu durante as filmagens; (b) "O Senhor dos Anéis" foi lançado no cinema. Ambos os eventos foram incorporados ao filme. O primeiro, por meio do diálogo supra-citado, o segundo... bem, quanto ao segundo, vou citar as palavras do próprio resenhista: "Um pouco mais tarde, em Matrix Revolutions, justamente o Oráculo fala das trevas que se aproximam e que certamente serão triunfantes, se Neo, o personagem de Keanu Reeves, fracassar. Por um momento, o espectador que realmente prestar atenção ao diálogo ficará em dúvida - o Oráculo está falando de Matrix ou de O Senhor dos Anéis? Porque tudo o que o Oráculo diz sobre Neo, Matrix e as trevas que se avizinham poderia muito bem aplicar-se à mítica busca do anel por Frodo."

Diante disso, eu fico pensando. O que passa pela cabeça de um jornalista que pensa que analogias tão triviais dão uma reportagem? Meu Deus! Para começar, só para começar, as trevas decorrentes do fracasso de Neo já eram uma obviedade desde o primeiro filme (não foram algo incorporado ao longo da produção). Mas o pior de tudo é achar que dois filmes são surpreendentemente análogos só porque uma "era de trevas" virá se o herói fracassar. É como dizer que as vidas de dois homens são surpreendentemente ligadas uma à outra porque ambos têm mãos e pés. E olha que eu nem mencionei a retórica pueril ("o Oráculo está falando de Matrix ou de O Senhor dos Anéis?").

No resto do texto, temos a habitual crítica a Hollywood e a também habitual referência à quantia arrecadada nas bilheterias do filme, coisas que só a mídia brasileira ainda acha que são notícia. Ah, já ia me esquecendo. O resenhista também diz que Matrix faz o espectador pensar; que Cornel West é o guru dos diretores do filme e que Neo simboliza o Predestinado de que West fala em suas teorias. Resumindo, o texto é composto por uma analogia pobre e superficial, comentários sociológicos bobinhos sobre os elementos que influenciaram os diretores na produção do filme, a já manjadíssima crítica a Hollywood (que costuma ser usada tanto para incluir como para excluir o filme resenhado), o também batidíssimo comentário sobre bilheterias e mais duas ou três observações óbvias ululantes.

Pior só mesmo a resenha da Folha de S. Paulo (Ilustrada, 04 de novembro), em que Sérgio Dávila diz que o último filme é "um emaranhado de cenas sem conexão que mal esconde o objetivo de sua existência: dar um ponto final a todos os plots e subplots que foram criados até agora. Como o último capítulo de uma novela das oito." Diz ainda que "o anterior, 'Matrix Reloaded', que estreou em maio, era um tributo à Doutrina Bush, como se o roteiro tivesse sido escrito por Paul Wolfowitz, o secretário adjunto de Defesa dos EUA. O que no primeiro encantava pela discussão entre o real e o virtual, com pitadas que iam de Jean Baudrillard à filosofia oriental, passando pela Bíblia e pelos clássicos gregos, no segundo era pau puro, militarista e com ecos do pior de 'Guerra nas Estrelas'."

O jornalismo brasileiro vai mal até na arte de falar mal. Há verdade na menção aos plots e subplots. Mas dizer que o "emaranhado de cenas" é "sem conexão" não passa de conversa fiada de boteco. Além disso, alguém precisava avisar o resenhista de que também houve guerras na Grécia Antiga. E, o mais importante de tudo, alguém precisava falar por aí que Matrix é muito mais que uma discussão entre o real e o virtual. E mesmo que se resumisse a isso, resenhar um filme é muito mais que enunciar seu assunto central, dizer que Neo é o Predestinado ou qualquer outra obviedade do tipo. Ah, já ia me esquecendo. Um terço do texto foi dedicado a piadinhas com o fato de que as continuações foram piores que o primeiro filme.

Por tudo isso é que eu terminei onde sempre termino, na mídia estrangeira. O texto da Salon discute aspectos do roteiro, temas filosóficos, consistência dos personagens e da narrativa, no filme e ao longo da série. Os críticos brasileiros não discutem nada disso. Mas só um parágrafo do texto já vale mais que todas as resenhas brasileiras:

"Estes diretores são ambiciosos e tentaram fazer algo grandioso. Tentaram manipular um vasto repositório mítico-cultural que abrange o Novo Testamento, J.R.R Tolkien, C.S. Lewis, 'O mágico de Oz', teoria crítica comtemporânea, políticas de esquerda e 'Tristão e Isolda'. Mas isso não quer dizer que a coisa toda funcione no final. O que há de melhor em 'Matrix Revolutions', além das provocativas cenas iniciais na estação de trem, envolve um bando de personagens - que, basicamente, nunca vimos antes - lutando em absurda desvantagem pela sobrevivência da raça humana, enquanto Neo vagueia por uma terra de desenho animado, estilo '2001'-com-pitadas-de-Frodo-vai-a-Mordor, em busca de grandes respostas (as quais, por sinal, terminam por se revelarem quase tão bobas quanto as do infeliz 'Missão: Marte', de Brian De Palma)."

Existe uma pequena diferença entre a crítica ferrenha das resenhas americanas e a das brasileiras. Naquela você enxerga o filme de que se está falando (com seus personagens, sua narrativa e sua mensagem), nesta você enxerga o hall e os corredores do cinema, com eventuais espiadinhas pela porta da sala de exibição. E enxerga também Hollywood, professores universitários "polêmicos", a vida dos diretores e dos atores e até George W. Bush!

Alguém pode dizer, em defesa das resenhas que critico, que o espaço para se escrever em um jornal é bem menor que o de uma revista eletrônica como a Salon. Mas isso não serve de desculpa. De 3099 caracteres de texto, Dávila, da Folha, gastou 1219 fazendo piadinhas que comparam o declínio de qualidade ao longo da série Matrix com os dois governos de Clinton e a vida de Puff Daddy (este "original e talentoso" no início, segundo o exegeta). No Estadão, Luiz Carlos Merten gastou, de 3451 caracteres, 770 pra dizer que Neo é o Predestinado, que Cornel West fala de predestinados em suas teorias, que Hollywood, em geral, faz filmes sem conteúdo e que Matrix tem muito conteúdo. Como se vê, só novidades que ninguém sabia! Além disso, gastou mais 364 caracteres para dizer quanto o filme já arrecadou e até para fazer uma comparação com outro - o de Jim Carrey ("O Todo-Poderoso") - o que totaliza um terço do texto, com comentários secundários que deveriam ser cortados de uma crítica um pouco mais séria e tão desprovida de espaço físico de impressão.

E olhe que eu nem escolhi um texto que falasse bem do filme. O resenhista da Salon não gostou do filme, mas ainda assim soube analisá-lo com respeito e apontar seus pontos altos. E este é outro defeito do jornalista brasileiro. Ele só sabe analisar um pouco melhor o filme de que gostou. Se não gostou, preenche a maior parte do texto com piadinhas e comentários secundários.

Comentário à parte: "Matrix Revolutions", na Folha de S. Paulo, ficou com uma estrela. Isso significa que é pior que "Lisbela e o Prisioneiro", que, segundo o Estadão, merece duas.

Diante de tudo isso, meus amigos, eu só tenho um conselho a dar para quem quer ler sobre cinema. Aprendam inglês!




P.S.: Há um erro grave que me esqueci de apontar na resenha de Sérgio Dávila. Referindo-se à narrativa de "Matrix Revolutions", o jornalista menciona o seguinte, sobre o personagem principal, Neo: "livre, ele se dirige à Cidade das Máquinas, onde vai pedir ajuda (a "deus?") para derrotar o vírus agente Smith (Hugo Weaving, sempre excelente), que coloca em risco a própria existência de Matrix." Acontece que Neo não vai pedir ajuda, mas oferecê-la. Conforme revela o próprio diálogo do filme, Neo é o único capaz de exterminar Smith.
</Evandro> <!--11:04 AM-->

Quinta-feira, Novembro 20, 2003

<Evandro> 

Sugiro a leitura disso e disso.
</Evandro> <!--11:58 AM-->

<Evandro> 

Pequeno relato


O debate de Olavo de Carvalho com Alaor Caffé Alves no Largo São Francisco terminou com este último invocando o poder institucional de professor da faculdade onde se travou o debate, para fugir ao mesmo. O professor alegou que não aceitava ser desmoralizado e ofendido em sua "casa" (sic!) e se retirou, enquanto militantes anacrônicos entoavam o coro "alerta, alerta, alerta aos fascistas, a América Latina será toda comunista".

Diversas alegações de Olavo de Carvalho, mesmo fundadas em bibliografia citada e até em livros apresentados no local (levados por ele), foram consideradas psicóticas e conspiratórias. Exemplo disso foram as risadas que Alaor deu quando Olavo de Carvalho afirmou que Lord Keynes era um agente a serviço da KGB.

O debate começou bem civilizado, com o professor Alaor expondo os fundamentos do marxismo e explicando a dialética materialista que, segundo a interpretação corrente, refere-se a uma espécie de "materialismo espititual", melhor definido por algo como "ação humana no mundo". A coisa começou a descambar depois que o professor Olavo introduziu o conceito - inteiramente novo - de marxismo como cultura no sentido antropológico do termo e expôs o fato inegável de que a "burocracia virtual" (os aspirantes ao poder estatal) foi a classe que fez todas as revoluções da história. Corajosamente, o professor Olavo falou sobre a redoma de vidro que isola o Brasil de bibliografias as mais importantes, observando que o próprio professor Alaor e os alunos ali presentes estavam dentro dessa redoma. E isso era demonstrado pelo fato de que as informações que ele introduzia naquele exato momento estavam soando absurdas aos ouvidos de seu interlocutor e causando risadas na platéia. Ironias de Olavo sobre a eficiência do regime comunista em matar pessoas de fome não foram interpretadas como tais nem pelo professor Alaor nem por grande parte da platéia, o que explica as acusações de fascismo no final. Olavo também afirmou que o objetivo mesmo da faculdade em cujo interior estávamos naquele momento é formar grande parte da classe que chamou de burocracia virtual. Fundou isso em uma estatística que mostra que apenas 2% dos alunos que se formam em uma faculdade vão ser empreendedores.

Além disso, o professor Olavo expôs a charlatanice de Marx, comentando sua distorção das fontes em "O Capital" e diversas outras desonestidades. Desmentiu também a explicação da história pela sucessão de modos de produção que geram internamente suas próprias contradições. Em resposta, o professor Alaor disse que "não era por aí", que não era de bom tom ficar chamando autores de charlatões, principalmente se os mesmos estão mortos e não podem responder à acusação. Olavo então observou que o conceito de fraude intelectual existe e configura um problema da maior seriedade.

O resto do debate foi marcado pelo discurso populista por parte do professor Alaor, que mais parecia um político do PT em campanha (tanto pelo conteúdo de seu discurso como por sua retórica e sua oratória). O professor da USP ficou reafirmando cada vez mais a impossibilidade da distribuição de renda como expressão de que o capitalismo já demonstra as contradições internas que levarão à sua superação. De nada adiantou Olavo lembrar que milhares de marxistas vêm afirmando isso desde o século XIX. Também não adiantaram de nada as observações de Olavo, fundadas em estatísticas, que mostravam que os países onde o mercado é menos controlado são aqueles onde há menos desigualdade social.

Enfim, prevaleceram as idéias de "esperança" e "utopia", ao invés de uma visão responsável e científica da ciência política e do capitalismo como um mecanismo que, se não é ideal, é o melhor que temos. Olavo afirmou que é psicose pura a idéia de jogar fora o mercado em prol de um ideal de democracia participativa, de aplicação infinitamente mais complexa que a já complicada democracia representativa que temos hoje (e que levaria a burocracia estatal e institucional a um crescimento absurdo). Some-se a isso o fato de que os exemplos históricos do socialismo são todos desastrosos. Por trás de tudo isso, estava a refutação filosófica do marxismo, teoria que, ao mesmo tempo em que afirma o materialismo (entendido como produção e ação humana no mundo) como critério fundamental de análise do homem, quer se excluir desse mesmo critério, afirmando que todos os socialismos deram errado porque não foram "verdadeiros", não refletiam as verdadeiras... idéias socialistas.

O evento foi, por assim dizer, impagável. E vai dar o que falar, com certeza. O professor Olavo está de parabéns por sua coragem, seriedade intelectual e extrema habilidade em lidar com uma situação-limite sem perder a oportunidade de desmentir dezenas de mitos em relação aos mais diversos assuntos de economia, política e filosofia. Acabou não falando muito sobre direito, preocupado que estava em fazer o mais importante: derrubar o marxismo em sua base, para tentar mostrar o quão inútil é tentar encontrar pontos positivos em uma filosofia absurdamente insana e fraudulenta. Está também de parabéns o professor Alaor, por mostrar tão perfeitamente o que é o marxismo: uma cultura radical, emotiva e volátil escondida sob uma máscara inicial de moderação e sensatez. Pena que fez isso com seus próprios atos, constituindo-se em exemplo vivo, em vez de analista teórico.

É uma pena que debates desse tipo não ocorram com freqüência. A defesa acalorada de idéias em uma contenda é um fenômeno com o qual os brasileiros não estão acostumados. Nós não estamos, de maneira alguma, prontos a encarar o tão cultuado pluralismo de idéias, muito menos a admitir que ele às vezes leva as pessoas a desentendimentos graves. A diversidade aqui só é aceita com a condição de que as idéias não se diferenciem em seus aspectos fundamentais, mas apenas nos secundários.

Peço desculpas se não comentei mais a fundo as afirmações de Alaor. É que acho perda de tempo e prefiro remeter os interessados à leitura da "Ideologia Alemã" e à rememoração das aulas de história assistidas no segundo-grau, em que a "superestrutura" era explicada pela "infra-estrutura". Foi basicamente isso que Alaor defendeu.
</Evandro> <!--11:44 AM-->

Domingo, Novembro 16, 2003

<Evandro> 

Sue e Claudio. Seus comentários do post aí embaixo me fizeram lembrar de uma das melhores frases que ouvi em "Matrix" (foi pronunciada por aquele personagem que trai os outros): "Ignorance is bliss"!

Infelizmente, como não podemos ser re-inseridos na Matrix, ou seja, uma vez que a superação da ignorância é um caminho sem volta (ao menos quase sempre!), só nos resta buscar nosso papel verdadeiro nesse mundo, que repousa na única liberdade real: a liberdade de espírito.

Estou lendo as Cartas, de Jacob Burckhardt, e gostaria de recomendar fortemente a leitura. É um livro muito bonito, repleto de relatos belíssimos de um homem extremamente sensível, imensa fonte de inspiração e conforto em tempos de imbecilização total da humanidade. De suas viagens pela Europa, após observar os grandes tesouros artísticos do Ocidente, saiu-se com a seguinte confissão: "quando vejo o presente repousando claramente no passado, sou tomado por um estremecimento de profundo respeito".

Esse profundo respeito pelo passado, que só pode vir de um verdadeiro conhecimento dele, é a base mais sólida que um homem pode ter nesse mundo. Quem, por entendê-lo, sente-se parte desse passado, é capaz de transpor os maiores obstáculos, entre os quais está a ignorância altiva do homem-massa, seja ele politizado ou não.
</Evandro> <!--4:12 PM-->

Quinta-feira, Novembro 06, 2003

<Evandro> 

Minha situação atual, diante de alguns amigos, no que se refere à economia encontra-se no seguinte impasse. Entendo o suficiente do assunto para saber que a economia brasileira não tem futuro do jeito que está, e que a única solução realmente efetiva seria a diminuição dos impostos e da interferência do Estado. Ao mesmo tempo, não entendo do assunto o suficiente para conseguir convencer quem quer que seja, durante uma conversa informal. Particularmente difíceis são os simpatizantes de FHC, sempre otimistas e inclinados a dar mais importância aos aspectos conjunturais, como diminuição dos juros e controle da inflação. Eu gostaria de poder explicar a eles que, embora as privatizações tenham sido uma iniciativa interessante, tiveram muitos resultados negativos, já que o dinheiro delas foi torrado em programas sociais inúteis. Além disso, elas servem agora como desculpa esfarrapada para acusar de neoliberal o governo social-democrata de FHC. Também gostaria de saber dizer a eles que a população de funcionários públicos de Brasília está cada dia maior, por causa do inchaço do Estado, e que isso não vai ficar sem conseqüências para as contas do Dinossauro. Mas não consigo que eles dêem a isso a devida importância. A cegueira cronocêntrica dos otimistas e cientificistas resiste aos mais sólidos argumentos, pois eles esperam que seu interlocutor lhes afogue num mar de estatísticas e jargões econômicos, mesmo que seja apenas para lhes provar que dinheiro não brota da terra (nem mesmo da roxa!).
</Evandro> <!--8:25 PM-->

<Evandro> 

Vejam a reportagem completa sobre os Liberty Classics no site da Topbooks. O projeto é grande e deveras respeitável!

Observação à parte: bastante elucidativa a referência do repórter de "O Globo" ao Liberty Fund como "essa curiosa instituição". Mostra o quão por fora ele está do cenário norte-americano. Certamente nunca ouviu falar do Mises.org, do FEE, do Acton Institute e de tantas outras fundações que defendem a liberdade e a individualidade naquele país.
</Evandro> <!--6:38 PM-->

Quarta-feira, Novembro 05, 2003

<Evandro> 

Achei isso aqui hoje. É um verdadeiro repositório de ensaios, artigos, capítulos de livros, e livros inteiros. Impressionante.
</Evandro> <!--11:03 PM-->

<Evandro> 






Coleção "Liberty Classics"! Em associação com o Liberty Fund! Sou pobre, mas nem tanto (e ainda comprei em sociedade com meu irmão). Salve Topbooks!!
</Evandro> <!--6:35 PM-->

<Evandro> 

"Pensei ao contrário". Ouvi isso hoje e fiquei imaginando como seria, literalmente, pensar ao contrário. Pegando carona no post aí embaixo, Marx teria escrito o Capital de trás pra frente, inventando primeiro explicações de coisa nenhuma e depois os conceitos que se encaixassem nelas, fazendo parecer que a coisa era alguma! Primeiro as conclusões e depois os problemas que as geraram. De um ponto de vista mais radical, Xram escreveria o Latipac, um livro sobre a "oãçarolpxe" dos "serodahlabart" pelos malvados "satsilatipac" nesse mundo "oãc". Agora imagine não só as palavras invertidas, mas também o raciocínio! O resultado final seria uma teoria tão diferente da original, que talvez o mundo estivesse em paz hoje. E com certeza a população da Rússia seria maior. (Sem querer fazer humor negro, mas já fazendo...).
</Evandro> <!--4:49 PM-->

Terça-feira, Novembro 04, 2003

<Evandro> 

É impressionante a quantidade de livros de estudos marxianos que se encontram nos sebos. Quando eu vou aos sebos maiores, ainda encontro livros diversificados, mesmo nas estantes de filosofia e sociologia. Mas, nos sebos de médio porte, é praticamente impossível encontrar qualquer coisa que não seja relacionada a Marx. O Brasil chegou a um ponto que parece uma sinuca de bico. Se um intelectual quer escrever um livro, ele tem de ser marxiano ou então anti-marxiano. Eu sonho com um tempo em que se possam escrever livros que nem se importem com o fato de que um dia existiu aquele louco. Quando eu li "A ideologia alemã", mal consegui acreditar na insanidade daqueles autores. Virava as páginas avidamente, ansiando por saber até onde podia ir a loucura do materialismo histórico. É assustador como milhares de "sábios" puderam levar a sério a teoria pretensamente oracular de um burguês que afirmava que nenhum burguês, por definição, jamais seria capaz de qualquer tipo de auto-consciência que transcendesse sua condição material no mundo. Nietszche disse que Deus estava morto. Marx, por sua vez, se auto-elegeu como uma espécie de Deus pós-burguês não sujeito ao determinismo da cronologia histórica, no momento mesmo em que se auto-excluiu de sua teoria determinista. A teoria que determinava todos os seres humanos, menos o seu autor. Que conveniente!
</Evandro> <!--10:46 PM-->

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