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<Evandro> Ontem eu fui ao supermercado e vi um CD dos "Doces Bárbaros". Fiquei pensando em uma cena típica dos tempos modernos. Um casal de jovens-barbudos-militantes-de-qualquer-causa-que-apareça está em casa num dia à noite. Ela, com o sovaco cheio de pêlos, vestindo farrapos neo-hippies que já sobrevivem a 30 dias de faculdade (jornalismo) sem lavar, chama o seu amor:
- Hu-hu... hu. Vem pra cama, meu docinho de cocô, quer dizer, de côco.
- Dá não, dá não, hu-hu... Tô ssistindo a palestra do Chomsky!
- Vem logo, hu-hu, môrzinho...
- Tá bom, tá bom, hu. Então põe Caetano aí, hu-hu!
- Ai... é. Hu-hu. Ele é tão doce, né?
- Tu também é doce, hu-hu, minha potranca fedida!
- Hu-hu! Ai, assim cê me dêxa arrepiada! Meu sovaco vai se eriçá!
E os dois mergulham numa linda noite de carícias, romântica como uma fossa de cocô de um feudo medieval. Ah, como é bela a Tropicália. Como evoluiu o homo sapiens desde Platão!
</Evandro> <!--5:43 PM-->
<Evandro> A Internet é um instrumento interessante. Você pode usá-la de diversas formas. Pode fazer como os executivos e as secretárias (estou sendo injusto, pois não são só eles; enfim, uns 90% da população virtual) e usá-la para repassar e-mails e ficar achando graça de coisas tolas, como fotos montadas e charges de Photoshop.
Mas você pode também participar de grupos de discussão que tenham "objetivos específicos". Ah, como eu odeio grupos de discussão que tenham objetivos específicos! Eles não servem para absolutamente nada. São chatos, e seus membros sempre concordam em tudo. Eles geralmente nascem de projetos universitários: "é preciso discutir o jornalismo cultural no contexto da era digital", ou "trata-se de explorar novos paradigmas teóricos no campo da semiótica e da teoria da comunicação" etc etc.
Mas não é exatamente sobre isso que eu queria falar. Eu queria falar sobre o uso que eu faço da Internet. Eu fico aqui escrevendo coisas diversas, e nem todos gostam do que lêem. Uns acham que eu sou polêmico demais, outros acham que eu sou um metido e que minhas opiniões são totalmente equivocadas. Então, de vez em quando alguém fica com raiva e resolve se manifestar. E as manifestações de discordância quase nunca são delicadas. Mas nem sempre criam inimizades! E isso é o mais legal. A Sue, por exemplo, eu a conheci no forum do Digestivo Cultural. Nós estávamos brigando e trocando farpas, tudo com muita classe, mediante o uso de argumentos e de muita retórica! hehe! E de repente nos tornamos amigos. Sim, por que não?
E é sobre isso que eu queria falar. Quando alguém te escreve um e-mail ou um comentário desagradável, por que não tentar conversar? Se você trata alguém com educação, essa pessoa pode ficar sem graça e perceber que não devia ter te ofendido. Quando falo de educação, eu não estou falando de ser doce e bobão, mas sim de dar alfinetadas com classe e até uma certa amizade. O conceito perfeito talvez seja "amizade semi-hostil"! Isso vale para tantas pessoas que eu conheço...
É lógico que muitas vezes isso não adianta de nada. Às vezes aparece no seu blog (ou caixa postal) uma daquelas almas penadas sem salvação, fadadas a voar por aí despejando sua verborragia auto-afirmativa. Geralmente essas pobres almas voam em bando, a repetir idéias em coro. Elas passam pelo seu blog, levantam os gráficos do Nedstat, incham as caixas de comentários. Começo a achar que elas possuem um certo caráter terapêutico. Realizam uma espécie de enchente no seu blog, limpando-o e deixando-o mais puro do que era antes, pelo efeito comparativo que causam: depois que elas se vão, você olha para o inferno que elas provocaram e pensa em como o seu blog voltou a ser limpinho e tranquilo. É mais ou menos como quando você recebe a visita de uma tia que trás seus 5 filhos pequenos e os solta dentro da sua casa. Quando eles vão embora você pensa: "sabe que eu nunca tinha percebido o quão calmo é o meu lar?"
</Evandro> <!--2:57 PM-->
<Evandro> Hoje foi a primeira vez em que entrei numa livraria e o vendedor sabia quem era Olavo de Carvalho. Uma das vantagens de São Paulo: tem tanta coisa aqui, que até sobra um "espacinho" na cabeça das pessoas para as coisas que realmente importam...
E por falar no que realmente importa, vi que os ensaios reunidos do Carpeaux (da TopBooks) foram reimpressos. Isso é bom. Mas, seguindo-se o famoso good news bad news, fontes confiáveis há muito me informaram que são pequeninas as chances de que saiam os próximos volumes do Carpeaux que a TopBooks prometeu. O motivo são intrigas com relação a direitos autorais. Não me perguntem que intrigas são essas, pois eu não tenho vocação pra detetive particular. Só sei que boa parte da culpa é da própria editora.
Esse post saiu com cara daquelas notinhas de revista de variedades da Editora Abril, não saiu? Estou falando do estilo, obviamente, porque o assunto só caberia num mundo fictício, onde teríamos "Biblioteca Carlos" ao invés de "Casa Claudia"...
</Evandro> <!--5:47 PM-->
<Evandro> Quando vejo um dono que gosta de seu cachorro, fico comovido. Hoje vi um sujeito atravessando a Rua dos Pinheiros com seu bichano. Quando chegaram os dois na outra esquina, o dono fez jeito de seguir em frente, mas o cachorro dobrou à esquerda (sinal dos tempos?). O homem, então, como um bom dono de cachorro, virou à esquerda. Ele poderia fazer o mais óbvio e normal: dar um puxão na coleira e seguir em frente. Mas não, ele virou à esquerda.
Eu sei que isso pode parecer banal, afinal ele estava passeando com seu cachorro e, por isso, estava à disposição do bicho naquele momento. Mas pense em quantos donos passeiam com seus cães e seguem o caminho que o bicho escolhe... Aliás, deve ser interessante deixar-se levar indefinidamente por seu cão, até mudar de bairro, ou mesmo perder-se!
A pergunta que não quer calar: onde iríamos parar se fôssemos levados por nossos cães?
Ai, meu Deus! Como ficou "profundinho" esse post. Desculpe, gente. Eu não queria. Foi sem querer. Quero deixar bem claro que "nossos cães" aqui NÃO tem um sentido psicanalítico!
</Evandro> <!--2:52 PM-->
<Evandro> Mudei aí do lado, viu? Agora estou agonizando em São Paulo. </Evandro> <!--2:51 PM-->
<Evandro>
E essa é a Camila!
</Evandro> <!--11:18 AM-->
<Evandro>
Essa é a Popy.
</Evandro> <!--11:10 AM-->
<Evandro> Desabafo
Hoje passei o dia encaixotando livros. Já são 5 caixas e ainda faltam outras 5. Ah, e encaixotei panelas e talheres também. Uma das coisas mais deprimentes que existem é você abandonar um apartamento pra ir morar em outro. Você leva todas aquelas coisas embora, as coisas que tinham cada uma o seu lugar fixo e supostamente vitalício. Você pensava que tinha alguma raiz nesse mundo, mas de repente (re)descobre que não passa de um mortal desprezível que pertence a lugar nenhum. E todas as coisas que você usou tantas vezes (as panelas e as travessas que você usava para fazer uma massa para os amigos no fim de semana) e que sempre estavam no mesmo lugar, de repente essas coisas estão em sacolas e vão para um outro lugar totalmente diferente, criar novas raízes ilusórias.
Tudo bem, estou exagerando. Afinal, é sempre bom mudar para um lugar melhor e mais promissor. "Pense no futuro e nas coisas novas", alguém dirá. Mas não consigo parar de pensar em como é triste viver em um lugar por anos e anos e depois vê-lo vazio, como num romance do García Marquez.
Mais triste ainda é fazer planos que depois não dão certo. Quando eu vim pra BH, tinha os maiores sonhos, gostava de andar na pracinha aqui perto de casa com a minha namorada-mulher-esposa! Meus pais compraram duas cadelinhas lindas e fofas e nós nos apaixonamos por elas! Então eu entrei na faculdade e não consegui fazer um amigo sequer. Minto. Fiz uma amiga (é você mesmo, Maria Helena, se é que você ainda lê esse blog). Mas não convivo normalmente com nenhuma das pessoas que conheci. As pessoas aqui são estranhíssimas, principalmente na faculdade de comunicação. Fiz mais amigos no curso de italiano do que na faculdade, onde só havia panelinhas de jovenzinhos descolados (de diversas categorias) e preconceituosos, doidos para rotular as pessoas. Como nenhuma das panelinhas conseguiu me rotular, fiquei quase sozinho mesmo. Lembro-me do dia em que encontrei um "videomaker" da minha sala em um restaurante indiano alternativinho frequentado por clubbers, gays e vegetarianos. Ele não conseguiu se conter e disse "Evandro? Você por aqui?". Ou seja: você, o intelectual CDF, frequentando esse lugar? Como pode? Cada um deve frequentar os lugares que se encaixam em seu perfil...
Assim é BH!
Agora estou saindo daqui. Levo boas recordações e uma certa mágoa da população, que não parece mostrar sinais de ter evoluído muito desde os tempos em que jovens talentosos como Drummond iam embora desiludidos para o Rio e São Paulo. Aqui não é lugar de gente que escreve e lê, a não ser que se encaixe no perfil de intelectualzinho feliz que gosta de vídeo-arte e poesia concreta. Nada contra os que não lêem nem escrevem. Estes são felizes aqui; enchem-se de amigos e saem pelos bares a tomar chopps deliciosos de fabricação própria, a R$1,90 a taça! Mas pra mim não dá mais. As cadelinhas fofas estão em Brasília (ai, que saudade!) e meu amor está em São Paulo (e a praia está lá pertinho!). E lá tenho até amigos virtuais, veja só que coisa! Espero que se tornem amigos reais, juntamente com a meia dúzia de mineiros desiludidos que já conheço lá também.
Enfim, gostaria de deixar aqui o meu latido para a Popy e a Camila, minhas duas cadelinhas fofas que foram embora com meus pais para o Planalto Central. Eu sei que vocês duas não sabem ler, mas ficam aqui essas palavras para uma outra encarnação talvez humana, quando vocês serão capazes de entender o quanto eu amo vocês duas, sua cagonas, mijonas e barrigudas!
</Evandro> <!--10:47 PM-->
<Evandro> Só pra não perder o costume: escreve aí, Agonías!! Os leitores já devem estar começando a pensar que você é meu alter-ego... </Evandro> <!--8:46 PM-->
<Evandro> Não sou afeito a manifestações de auto-comiseração (eita, palavrão!). De fato devo confessar que tenho certa impaciência com alguns amigos virtuais que vivem a dizer que estão sem inspiração ou que não escrevem bem (apesar de todos viverem a elogiá-los) etc etc.
Acontece que estou mesmo sem inspiração esses dias. É um fato apenas.
Entretanto, a simples redação desse post já desmente o que estou querendo provar, afinal de contas eu acabei fazendo do tal problema um assunto!
Bem, bem... Então esqueçam o que eu disse. Do we have a deal?
</Evandro> <!--8:45 PM-->
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